Tratamento para Síndrome de Tourette: opções eficazes para controlar os tiques
- Ariely Teotonio Borges

- 29 de out.
- 3 min de leitura
A síndrome de Tourette é um transtorno neurológico caracterizado por tiques motores e vocais que surgem ainda na infância ou adolescência. Embora os tiques possam diminuir com o tempo, muitos pacientes continuam enfrentando sintomas na vida adulta, o que pode afetar a autoestima, os relacionamentos e até o desempenho no trabalho.
Muita gente ainda acredita que "não há o que fazer", mas isso não é verdade. A ciência já avançou bastante e hoje existem várias opções de tratamento que ajudam a controlar os tiques e melhorar a qualidade de vida.
Neste texto, explico de forma simples e prática as principais formas de tratar a síndrome de Tourette, mesmo nos casos mais complexos.
Quando o tratamento é indicado?
Nem todos os pacientes com síndrome de Tourette precisam de tratamento medicamentoso.
Se os tiques são leves, não causam dor, sofrimento emocional ou prejuízo funcional, muitas vezes o melhor caminho é apenas acompanhar, o que chamamos de “observação ativa”.
Mas, quando os tiques são intensos, frequentes ou causam constrangimento, queda na autoestima ou dificuldades para estudar, trabalhar ou manter relacionamentos, é hora de tratar.
Terapia comportamental: primeira linha
A abordagem preferencial para a maioria dos pacientes é a terapia comportamental especializada.
A técnica mais recomendada é o CBIT (Comprehensive Behavioral Intervention for Tics), que combina estratégias como:
Tomada de consciência: o paciente aprende a identificar o momento em que o tique está prestes a acontecer
Resposta concorrente: cria-se uma resposta voluntária e incompatível com o tique
Treinamento de relaxamento e manejo do estresse
Esse tipo de tratamento é eficaz e não tem efeitos colaterais, mas exige regularidade e profissionais treinados.
Medicamentos: quando os tiques atrapalham demais
Quando a terapia comportamental não é suficiente, podemos associar medicações que ajudam a reduzir a intensidade dos tiques. As opções mais usadas são:
Agonistas adrenérgicos (como clonidina ou guanfacina): boa opção quando o paciente também tem TDAH ou ansiedade
Antipsicóticos (como risperidona, aripiprazol ou haloperidol): usados em casos mais graves ou resistentes
Inibidores de VMAT2 (como tetrabenazina): especialmente eficazes para tiques motores graves
Topiramato: uma alternativa útil em alguns casos
A escolha depende do perfil de sintomas e da tolerância do paciente. Sempre buscamos o equilíbrio entre eficácia e efeitos colaterais.
Toxina bolutínica (botox)
Em alguns casos bem selecionados, principalmente com tiques motores localizados (como piscadas fortes ou contrações no pescoço), o uso da toxina botulínica (Botox) pode ser uma excelente estratégia.
A toxina age diretamente no músculo envolvido, reduzindo o movimento involuntário e o desconforto.
Estimulação cerebral profunda (DBS)
Nos casos mais severos, onde os tiques são incapacitantes e não respondem a nenhum outro tratamento, existe a possibilidade de indicar a estimulação cerebral profunda (DBS) — uma cirurgia neurológica que atua diretamente em áreas do cérebro envolvidas na geração dos tiques.
Ainda que seja um tratamento restrito a casos graves e pouco responsivos, já há bons resultados documentados em centros especializados.

Tratar as comorbidades também ajuda
Grande parte dos pacientes com síndrome de Tourette tem outros transtornos associados, como:
Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH)
Transtorno obsessivo-compulsivo (TOC)
Ansiedade
Depressão
Tratar essas condições é tão importante quanto cuidar dos tiques e muitas vezes, melhora os tiques indiretamente.
apoio familiar e psicoeducação fazem toda a diferença
Entender o que são os tiques, como funcionam, o que os piora (como estresse e sono ruim), e o que esperar do tratamento, ajuda a reduzir o estigma e melhora muito a convivência com o transtorno.
A escola, o trabalho e a família também devem ser orientados para evitar julgamentos ou punições inadequadas.
Quando tratar, como tratar e com quem tratar?
A escolha do tratamento ideal depende de vários fatores: a intensidade dos tiques, o impacto na vida do paciente, a presença de outras condições associadas e até mesmo a idade.
Mas o mais importante é entender que a síndrome de Tourette tem tratamento, e que o acompanhamento com um neurologista experiente pode fazer toda a diferença no resultado final.
Sou Dra. Ariely Teotonio Borges, médica neurologista, e trabalho junto com cada um dos meus pacientes, utilizando estratégias que os ajudem a melhorar sua rotina e qualidade de vida.
Fontes:
UpToDate – Hyperkinetic movement disorders in children
CDC – Centers for Disease Control and Prevention: Tourette Syndrome Treatments
Mayo Clinic – Tourette syndrome: Diagnosis and Treatment
PMC – Pharmacologic Treatment of Tourette Syndrome (PMC7851278)
American Academy of Neurology Guidelines (Tourette Syndrome Treatment)





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