Enxaqueca menstrual: isso existe?

Ariely Teotonio Borges
há 16 horas
3 min de leitura

Sabe aquela dor de cabeça que insiste em aparecer exatamente na mesma época todo mês? Para muitas mulheres é enxaqueca menstrual.

Esse tipo específico de enxaqueca está diretamente ligado à queda dos hormônios femininos no período pré-menstrual, e costuma ser mais intensa, duradoura e resistente aos tratamentos convencionais. Apesar de ser bastante comum, ainda é pouco reconhecida e muitas vezes confundida com outros tipos de cefaleia.

Neste artigo, explico como identificar a enxaqueca menstrual, por que ela acontece e quais são as opções de tratamento mais eficazes.

O que é a enxaqueca menstrual?

A enxaqueca menstrual é um subtipo de enxaqueca relacionada diretamente às variações hormonais do ciclo menstrual, especialmente à queda dos níveis de estrogênio.

Ela pode se apresentar de duas formas:

Pura: ocorre apenas nos dias que antecedem ou durante a menstruação (geralmente entre dois dias antes e até três dias depois).
Associada: ocorre nesse período, mas também em outros momentos do mês.

Em ambos os casos, os sintomas costumam ser mais fortes, duradouros e menos responsivos aos analgésicos habituais.

Por que os hormônios afetam tanto?

O estrogênio é um dos hormônios sexuais femininos e exerce efeito direto sobre a função cerebral, incluindo a sensibilidade à dor.

Durante o ciclo menstrual, a queda rápida do estrogênio pode desencadear:

Inflamação dos nervos sensíveis à dor
Ativação de áreas cerebrais ligadas à enxaqueca
Alterações na vascularização do cérebro

É por isso que, mesmo sem nenhuma alteração no estilo de vida, muitas mulheres sentem a dor piorar nesses dias.

Quais os sintomas da enxaqueca menstrual?

Os sintomas são parecidos com os da enxaqueca comum, mas costumam ser mais fortes e duradouros:

Dor em um dos lados da cabeça (ou nos dois)
Sensação pulsátil ou latejante
Náuseas ou vômitos
Sensibilidade à luz, som e cheiros
Cansaço extremo
Irritabilidade e alteração do humor

Em alguns casos, os sintomas duram mais de 72 horas e não melhoram com o uso de analgésicos comuns.

Como é feito o diagnóstico?

O diagnóstico é clínico, ou seja, feito com base na conversa entre paciente e neurologista.

Geralmente, peço à paciente que anote a relação entre o ciclo menstrual e as crises por alguns meses. Isso nos ajuda a identificar o padrão e definir o melhor plano de tratamento.

Não é necessário fazer exames de imagem para confirmar a enxaqueca menstrual, a não ser que haja sinais de alerta que indiquem outro tipo de dor de cabeça.

E o tratamento?

O tratamento da enxaqueca menstrual pode seguir três caminhos:

1. tratamento da crise

Quando a dor já está instalada, usamos medicações específicas para enxaqueca, como:

Triptanos (como sumatriptana ou naratriptana)
Anti-inflamatórios (como naproxeno)
Antieméticos (para náuseas)

Mas nem sempre esses medicamentos funcionam bem em crises menstruais.

2. prevenção nas fases do ciclo

Para quem tem dor previsível (sempre no mesmo período do mês), é possível usar uma profilaxia curta:

Começar a medicação alguns dias antes da menstruação e manter por cerca de 5 dias
Usar anti-inflamatórios, triptanos ou magnésio, conforme o caso

Essa abordagem reduz a chance de a crise se instalar.

3. prevenção contínua

Em casos mais graves ou frequentes, pode ser necessário fazer uma prevenção contínua, com:

Modulação hormonal (como anticoncepcionais, em alguns casos)
Betabloqueadores, antidepressivos ou antiepilépticos
Suplementação com magnésio ou riboflavina
Acompanhamento neurológico e ginecológico conjunto

Muitas mulheres ainda escutam frases como “isso é normal”, “faz parte de ser mulher” ou “é só cólica”.

Mas a verdade é que nenhuma dor incapacitante deve ser considerada normal. Se você percebe um padrão nas crises e sente que a dor atrapalha sua vida, vale investigar e tratar com um neurologista.

Sou Dra. Ariely Teotonio Borges, médica neurologista, e trabalho junto com cada um dos meus pacientes, utilizando estratégias que os ajudem a melhorar sua rotina e qualidade de vida.

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