Entendendo e tratando a distonia cervical
- Ariely Teotonio Borges

- 18 de dez.
- 3 min de leitura
Quando pacientes chegam ao consultório e relatam que o pescoço “vira sozinho”, ou que há contrações repetitivas e involuntárias dos músculos do pescoço, estamos diante da Distonia cervical, também conhecida como torcicolo espasmódico. Neste texto explico de forma direta e acessível o que é essa condição, como identificá-la e quais são as principais formas de tratamento eficazes.
O que é a distonia cervical
A distonia cervical é um tipo de distonia focal que afeta os músculos do pescoço e dos ombros, provocando posturas anormais da cabeça, movimentos repetitivos ou inclinação involuntária para um lado. Geralmente manifesta-se entre os 40 e 60 anos, com leve predominância em mulheres.
Por que isso acontece?
A causa exata da distonia cervical ainda é desconhecida na maioria dos casos, por isso chamamos de “primária” ou idiopática. Sabemos que há disfunção nos circuitos que regulam o movimento no cérebro, envolvendo gânglios da base e áreas sensoriais. Fatores genéticos, ambientais ou trauma podem atuar como desencadeantes.
Como identificar — sinais típicos
Inclinação ou rotação persistente da cabeça para um lado, mesmo sem querer.
Contrações visíveis ou sensação de “movimento” dos músculos cervicais.
Dor ou desconforto no pescoço ou nos ombros.
Alívio momentâneo ao realizar “truques sensoriais”, como tocar o queixo ou a bochecha do lado afetado.
Os sintomas podem piorar em situações de estresse ou fadiga.
Diagnóstico — o que esperar
O diagnóstico é clínico: o neurologista examina os movimentos, a postura da cabeça e pescoço, descarta causas secundárias como trauma, medicamentos ou outras doenças neurológicas. Exames de imagem ou eletroneuromiografia são realizados apenas se houver suspeita de outra causa que não seja a distonia primária.

Tratamento — o que funciona
Injeção de toxina botulínica
É o tratamento de primeira linha. A toxina botulínica é aplicada em músculos específicos do pescoço para reduzir as contrações involuntárias. O efeito costuma surgir em cerca de uma semana, atingir o pico entre 2 a 6 semanas, e durar aproximadamente 3 a 6 meses, após isso precisa repetir. Estudos mostram que 50% a 90% dos pacientes obtêm melhora significativa com esse tratamento.
Medicamentos orais e outros tratamentos
Embora a toxina seja o padrão, medicamentos como anticolinérgicos, baclofeno, benzodiazepínicos ou dopaminérgicos podem ser adicionados em casos específicos. No entanto, a eficácia costuma ser menor e os efeitos colaterais maiores.
Terapias complementares
Fisioterapia especializada, massagem, alongamento e técnicas de relaxamento contribuem para aliviar dor, melhorar a postura e complementar os outros tratamentos. Técnicas como “geste antagoniste” (truque sensorial) também ajudam na rotina.
Cirurgia ou estimulação cerebral profunda (DBS)
Nos casos mais graves ou resistentes, a cirurgia ou a estimulação cerebral profunda (DBS) podem ser consideradas. Nesses casos, os resultados variam e devem ser discutidos com o neurologista e neurocirurgião experientes.
O que posso fazer no dia a dia
Busque iniciar o tratamento com toxina botulínica assim que o diagnóstico for confirmado.
Mantenha fisioterapia regular e pratique exercícios de pescoço leves.
Reduza o estresse e cuide do sono, pois esses fatores agravam a distonia.
Faça o acompanhamento periódico com seu neurologista para ajustar doses ou técnicas.
Sou Dra. Ariely Teotonio Borges, médica neurologista, e trabalho junto com cada um dos meus pacientes, utilizando estratégias que os ajudem a melhorar sua rotina e qualidade de vida.
Fontes
MSD Manual – Distonia cervical.
Mayo Clinic – Cervical dystonia: diagnosis & treatment.
Practical Neurology – Cervical dystonia treatments: effective options.
Loudovici‑Krug D, et al. Physiotherapy for cervical dystonia: a systematic review.
Neurológica (BR) – O que é distonia cervical e opções de tratamento.





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