Bebida alcoólica e crise convulsiva- existe relação? Quem tem epilepsia pode consumir álcool?
- Ariely Teotonio Borges
- 6 de nov. de 2024
- 4 min de leitura
Para quem vive com epilepsia, entender os efeitos da bebida alcoólica no organismo é fundamental. O álcool, por si só, tem um impacto no sistema nervoso central, e para pessoas com epilepsia, ele pode aumentar o risco de crises convulsivas e afetar a eficácia dos medicamentos anticonvulsivantes. Entender esses efeitos é fundamental para que você possa fazer escolhas seguras e evitar riscos.
Como o álcool afeta o cérebro
O álcool é um depressor do sistema nervoso central, ou seja, ele reduz a atividade cerebral. Em pessoas com epilepsia, essa interferência pode ser arriscada. O álcool age alterando a função dos neurotransmissores, substâncias que as células nervosas utilizam para comunicar-se entre si. A curto prazo, ele pode causar efeitos calmantes, mas, com o tempo, essas mudanças podem se tornar instáveis, principalmente durante a fase de abstinência, que ocorre depois de algumas horas do consumo. Essa alteração no equilíbrio químico do cérebro pode contribuir para o surgimento de crises epilépticas.
Efeito do álcool nas crises convulsivas
Diversos estudos, como os realizados pela Epilepsy Foundation e pelo National Institute of Neurological Disorders and Stroke (NINDS), mostram que o consumo excessivo de álcool pode ser um gatilho para crises em pessoas com epilepsia. Esse risco é especialmente elevado em situações como:
Abstinência de álcool: Quando o efeito do álcool começa a desaparecer, geralmente após várias horas de ingestão, o cérebro, em adaptação à ausência do depressor, pode se tornar hiperexcitável. Esse período de abstinência é um dos momentos mais críticos para a ocorrência de crises.
Interação com medicamentos anticonvulsivantes: O álcool pode interferir na eficácia de medicamentos anticonvulsivantes, como carbamazepina, fenitoína e ácido valproico. Essa interferência pode diminuir a capacidade desses medicamentos de prevenir crises, colocando o indivíduo em risco.
Efeitos do álcool em curto prazo: Mesmo pequenas quantidades de álcool podem ter um efeito adverso. Bebidas alcoólicas podem causar distúrbios de sono, estresse no sistema nervoso e desidratação, todos fatores que também são conhecidos por desencadear crises em pessoas com epilepsia.
Qual a quantidade de álcool segura?
O consumo de álcool para pessoas com epilepsia é um tema discutido entre médicos e pesquisadores, e há uma visão de que, em muitos casos, o consumo deve ser evitado. No entanto, segundo a American Epilepsy Society, pequenas quantidades de álcool (um copo de vinho ou uma cerveja, ocasionalmente) podem não ser prejudiciais para todos. O que é importante é manter uma comunicação clara com seu neurologista para entender o impacto do álcool específico para cada caso, uma vez que isso pode variar de pessoa para pessoa.

Cuidados importantes para quem vive com epilepsia
Aqui estão algumas dicas práticas para quem vive com epilepsia e quer se manter seguro em relação ao consumo de álcool:
Limite o consumo: Se for consumir, opte por pequenas quantidades e evite beber em excesso. Em situações especiais, sempre consulte seu neurologista sobre a segurança.
Não misture álcool com anticonvulsivantes: Evite consumir bebidas alcoólicas ao mesmo tempo em que toma seus medicamentos. Essa prática pode aumentar o risco de efeitos colaterais e diminuir a eficácia do tratamento.
Hidrate-se: A desidratação é um fator que aumenta a suscetibilidade a crises epilépticas. Beba água junto com a ingestão de álcool para reduzir esse risco.
Cuidado com o sono: O álcool pode interferir na qualidade do sono, outro fator importante para a estabilidade das crises. Dormir bem é essencial para reduzir o risco de crises.
Evite beber em jejum: A queda de glicose no sangue causada pelo álcool pode ser um gatilho para crises. Procure consumir alimentos ao ingerir bebidas alcoólicas para reduzir esse efeito.
O álcool como gatilho para crises
Para algumas pessoas, até mesmo uma pequena quantidade de álcool pode desencadear uma crise. Já para outras, o consumo moderado pode não representar um risco significativo. No entanto, o impacto do álcool varia, e a melhor recomendação é sempre consultar seu médico e acompanhar como seu corpo reage. Algumas pessoas com epilepsia podem perceber que, com o tempo, o consumo de álcool aumenta a frequência de crises e até mesmo sua intensidade.
Quando o consumo é um risco maior
Embora algumas pessoas possam não ter crises com pequenas quantidades de álcool, o uso crônico e o abuso da bebida alcoólica elevam substancialmente o risco de crises epilépticas e outros problemas graves. A Epilepsy Foundation alerta que o abuso do álcool pode levar ao "status epilepticus", uma condição em que a crise dura mais de cinco minutos ou quando ocorrem crises repetidas sem recuperação total entre elas, sendo uma situação que necessita de intervenção médica urgente.
Conclusão: é possível conviver com a epilepsia e moderar o consumo de álcool?
Sim, é possível, mas é fundamental ter cuidados extras e adotar o consumo com moderação e acompanhamento médico. A conscientização e o diálogo com seu neurologista são essenciais para avaliar a segurança e os limites de cada pessoa. Lembre-se sempre de que o controle da epilepsia depende de muitos fatores, incluindo o equilíbrio químico no cérebro e a ação dos medicamentos.
Se você vive com epilepsia e tem dúvidas sobre como o álcool pode impactar sua saúde, converse com seu médico. Ele(a) pode ajudá-lo a entender seus gatilhos e manter uma rotina saudável e equilibrada, reduzindo ao máximo o risco de crises e garantindo sua qualidade de vida.
Sou Dra. Ariely Teotonio Borges, médica neurologista e trabalho junto com cada um dos meus pacientes, utilizando estratégias que os ajudem a melhorar sua rotina e qualidade de vida.
Fontes:
American Epilepsy Society
Epilepsy Foundation
National Institute of Neurological Disorders and Stroke (NINDS)