Síndrome de Guillain-Barré: um guia completo sobre subtipos, causas, sintomas, diagnóstico e tratamento
- Ariely Teotonio Borges
- 5 de fev.
- 3 min de leitura
A Síndrome de Guillain-Barré (SGB) é uma condição autoimune rara, mas potencialmente grave, em que o sistema imunológico ataca os nervos periféricos, causando fraqueza progressiva, dormência e, em casos mais graves, paralisia. Embora seja uma doença que pode ser assustadora, um diagnóstico e tratamento precoces podem fazer toda a diferença para o prognóstico. Aqui, abordaremos em detalhes os subtipos, causas, sintomas, formas de diagnóstico e as opções de tratamento disponíveis.
O que é a Síndrome de Guillain-Barré?
A SGB é uma condição em que o sistema imunológico, por razões ainda não totalmente compreendidas, começa a atacar os nervos periféricos. Esses nervos são responsáveis por transmitir sinais do cérebro para o corpo e vice-versa. Quando afetados, há uma interrupção na comunicação, resultando nos sintomas característicos.
Embora seja rara (afetando cerca de 1 a 2 pessoas a cada 100.000 por ano, segundo a National Institute of Neurological Disorders and Stroke), a SGB pode progredir rapidamente, tornando-se uma emergência médica.
Subtipos da Síndrome de Guillain-Barré
A SGB não é uma única condição; ela possui subtipos com características distintas:
Polirradiculoneuropatia Desmielinizante Inflamatória Aguda (AIDP):
O tipo mais comum em países ocidentais.
Caracteriza-se pela destruição da mielina, a camada protetora que envolve os nervos.
Causa fraqueza progressiva que geralmente começa nas pernas.
Neuropatia Axonal Motora Aguda (AMAN):
Comum em países asiáticos e na América Latina.
Afeta diretamente os axônios motores (parte dos nervos que transmitem sinais de movimento).
Geralmente tem progressão mais rápida.
Neuropatia Axonal Motora e Sensitiva Aguda (AMSAN):
Similar à AMAN, mas também afeta os axônios sensoriais.
Associada a maior gravidade e recuperação mais lenta.
Síndrome de Miller Fisher (MFS):
Forma rara, caracterizada por:
Paralisia ocular (oftalmoplegia).
Perda de reflexos.
Falta de coordenação (ataxia).
Muitas vezes começa com sintomas nos olhos e pode se espalhar.
Neuropatia Autonômica Aguda:
Envolve o sistema nervoso autônomo, que controla funções involuntárias, como respiração e batimentos cardíacos.
Pode causar arritmias, hipotensão e outros sintomas graves.
Causas e fatores de risco
A causa exata da SGB ainda não é totalmente compreendida, mas a doença geralmente é precedida por infecções ou outros gatilhos que provocam uma resposta imune desregulada.
Principais causas e fatores associados:
Infecções recentes (70% dos casos):
Bactéria Campylobacter jejuni (associada a infecções intestinais).
Vírus Epstein-Barr (EBV).
Citomegalovírus (CMV).
Zika vírus.
SARS-CoV-2 (COVID-19).
Vacinações recentes: Embora raro, algumas vacinas podem desencadear SGB em indivíduos predispostos.
Cirurgias ou traumas recentes.
Doenças autoimunes: Pessoas com histórico de condições autoimunes podem estar em maior risco.
Sintomas
Os sintomas da SGB geralmente começam de forma súbita e progridem rapidamente, podendo alcançar o pico em algumas semanas.
Sintomas iniciais:
Dormência ou formigamento nos pés e mãos.
Fraqueza muscular, geralmente começando nas pernas.
Perda de reflexos.
Sintomas progressivos:
Fraqueza que se espalha para braços e face.
Dificuldade para engolir ou falar.
Dores musculares intensas.
Problemas respiratórios, devido à fraqueza dos músculos respiratórios.
Complicações graves:
Paralisia total.
Arritmias cardíacas.
Insuficiência respiratória, necessitando de ventilação mecânica.

Diagnóstico
O diagnóstico da SGB requer uma avaliação clínica cuidadosa e exames complementares para confirmar a condição e descartar outras causas.
História clínica e exame neurológico:
Avaliação dos sintomas, como fraqueza progressiva e reflexos reduzidos.
Punção lombar:
Analisa o líquido cefalorraquidiano, frequentemente mostrando aumento das proteínas sem aumento de células brancas.
Estudos de condução nervosa:
Avaliam a velocidade dos sinais elétricos nos nervos, mostrando padrões típicos de desmielinização ou dano axonal.
Exames de imagem (ressonância magnética):
Usados para descartar outras condições neurológicas.
Tratamento
A SGB é uma emergência médica, e o tratamento precoce é essencial para evitar complicações graves.
Terapias de primeira linha:
Plasmaférese: Remove os anticorpos nocivos do sangue.
Imunoglobulina Intravenosa (IVIG): Neutraliza os anticorpos responsáveis pelo ataque aos nervos.
Cuidados de suporte:
Ventilação mecânica em casos de insuficiência respiratória.
Monitoramento cardíaco para evitar complicações autonômicas.
Reabilitação e fisioterapia:
Após a fase aguda, a fisioterapia ajuda a restaurar a força muscular e a função motora.
Tratamentos experimentais:
Pesquisas estão explorando terapias como anticorpos monoclonais para modular a resposta imune.
Prognóstico
A recuperação da SGB varia de semanas a meses. A maioria dos pacientes se recupera totalmente, mas alguns podem apresentar fraqueza residual ou outros sintomas permanentes.
Fatores que influenciam o prognóstico:
Idade (mais difícil em idosos).
Subtipo (AMAN e AMSAN têm recuperação mais lenta).
Tempo de início do tratamento.
A Síndrome de Guillain-Barré é uma condição desafiadora, mas com diagnóstico precoce e tratamento adequado, muitas pessoas conseguem se recuperar completamente. Se você ou alguém próximo apresentar sintomas sugestivos, procure ajuda médica imediatamente.
Sou Dra. Ariely Teotonio Borges, médica neurologista, e trabalho junto com cada um dos meus pacientes, utilizando estratégias que os ajudem a melhorar sua rotina e qualidade de vida.
Referências
National Institute of Neurological Disorders and Stroke (NINDS).
Mayo Clinic.
Cleveland Clinic.
StatPearls.
Expert Review of Neurotherapeutics.
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