Alucinações, delírios e psicose na doença de Parkinson é mais comum do que se imagina - entenda
- Ariely Teotonio Borges
- 23 de abr.
- 3 min de leitura
Algumas pessoas com Parkinson podem ter alucinações visuais, auditivas ou táteis, principalmente em estágios mais avançados da doença. Isso pode assustar quem convive com o paciente, gerar culpa ou incompreensão. Por isso, é essencial entender o que está por trás desse sintoma e como ele pode ser tratado.
O que são alucinações?
Alucinação é a percepção de algo que não está realmente presente. A forma mais comum no Parkinson é a alucinação visual, como ver pessoas, animais ou objetos que não existem.
Alguns pacientes descrevem ver “sombras passando”, “insetos na parede” ou até mesmo “pessoas sentadas no sofá”. Em muitos casos, a pessoa sabe que aquilo não é real — o que chamamos de alucinação com insight preservado. Mas, com a progressão da doença, o cérebro pode não conseguir mais fazer essa distinção.
Por que isso acontece?
As alucinações no Parkinson são causadas por uma combinação de fatores, entre eles:
Degeneração de áreas cerebrais responsáveis pela percepção e controle visual
Uso de medicamentos dopaminérgicos, que podem alterar a atividade cerebral e causar efeitos colaterais neuropsiquiátricos
Distúrbios do sono REM, que facilitam sonhos vívidos e confusão mental ao acordar
Declínio cognitivo e início de um quadro de demência associada ao Parkinson
Alterações na visão, como catarata ou degeneração macular, que confundem a interpretação visual do cérebro
Ou seja, as alucinações no Parkinson são fruto de uma vulnerabilidade neurológica somada a fatores ambientais e medicamentosos.
Quando as alucinações aparecem?
Nem todos os pacientes com Parkinson terão alucinações. Segundo a Mayo Clinic e a Parkinson’s Foundation, cerca de 20 a 40% dos pacientes podem apresentar alucinações em algum momento da evolução da doença, principalmente após os 70 anos ou em fases mais avançadas.
Geralmente surgem após alguns anos de tratamento e costumam ser discretas no início. Com o tempo, podem se tornar mais intensas ou causar confusão e agitação.
⚠️ Quando se preocupar?
As alucinações podem ser:
Simples e inofensivas: o paciente vê algo, mas não se assusta, entende que é irreal e segue a vida.
Moderadas: o paciente conversa com figuras imaginárias, mas sem agressividade ou sofrimento.
Graves e perigosas: o paciente acredita nas alucinações, se assusta, reage com medo ou agressividade. Isso pode colocar a si mesmo ou os outros em risco.
Nesses casos, é indispensável uma avaliação médica urgente.

👩⚕️ O que fazer se meu familiar estiver tendo alucinações?
Evite confrontar. Se a pessoa disser que está vendo algo que você não vê, não diga que “é coisa da cabeça dela”. Isso pode gerar conflito e angústia.
Reduza estímulos visuais: ambientes com pouca iluminação, muitos reflexos ou sombras podem piorar a confusão visual.
Converse com o neurologista: o ajuste dos medicamentos antiparkinsonianos pode ajudar muito.
Investigue alterações de sono e visão: insônia, apneia ou problemas oftalmológicos podem contribuir para o quadro.
Evite o isolamento. Solidão e silêncio prolongado favorecem alucinações.
💊 Existe tratamento?
Sim. O primeiro passo é avaliar os medicamentos em uso, principalmente se houver altas doses de levodopa, pramipexol, ropinirol, entre outros.
Se as alucinações forem persistentes, o neurologista pode indicar o uso de medicações específicas, como:
Pimavanserina (ainda não disponível no Brasil)
Quetiapina (usada com cautela)
Clozapina (em doses muito baixas, com controle rigoroso)
Importante: nem todo antipsicótico é seguro para pacientes com Parkinson. Alguns medicamentos de uso psiquiátrico podem piorar os sintomas motores — por isso, nunca use medicação por conta própria.
✅ Em resumo:
As alucinações no Parkinson são um sintoma comum, mas subestimado.
Na maioria das vezes, são visuais, discretas e sem gravidade.
Com o tempo, podem se tornar mais intensas e perigosas.
Há tratamento, mas ele deve ser individualizado.
Apoio familiar e comunicação com o neurologista são fundamentais.
Sou Dra. Ariely Teotonio Borges, médica neurologista, e trabalho junto com cada um dos meus pacientes, utilizando estratégias que os ajudem a melhorar sua rotina e qualidade de vida.
📚 Fontes:
Parkinson’s Foundation (www.parkinson.org)
Mayo Clinic (www.mayoclinic.org)
American Academy of Neurology
National Institute of Neurological Disorders and Stroke (www.ninds.nih.gov)
UpToDate – Clinical manifestations and diagnosis of Parkinson diseasePsicose, Alucinações e Delírios
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